quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Pequena reflexão acerca do sindicalismo hoje

Esta pequena reflexão não pretende ser um trabalho académico carregado de suportes estatísticos e outros, bem delineado e elaborado. Nem o espaço é propicio nem o autor tem essa capacidade. Também não pretende abarcar todo o espectro do problema. Pretende ser, isso sim, uma pequena opinião acerca do definhamento do sindicalismo militante e do seu novo papel num sistema capitalista neo-liberal; pretende problematizar focando alguns aspectos que são, á sua medida, pertinentes, não esgotando, evidentemente e longe disso, o debate por este ser de largo espectro e bastante multifacetado. O sindicalismo hoje debate-se com problemas de diversa ordem e natureza sendo o resultado bem visível no declínio do números trabalhadores* sindicalizados, na impotência de travar o embate das forças neo-liberais no retirar de direitos historicamente consagrados e na sua própria perda de influência. Assiste-se então, hoje e perante este cenário, a uma tentativa de sobrevivência dos próprios sindicatos que das duas uma: ou sabotam cobardemente a luta dos trabalhadores ou se docilizam e tentam um acometimento ao capitalismo. O sindicato, entidade representativa dos trabalhadores, como o conhecemos, teve, nas suas origens, uma base dual: primeiro numa relação de identificação entre o trabalhador e trabalho e em segundo numa forte consciência de classe. Eram estes pilares que lhe dava a unidade, não só na teoria como na acção. Porém, com as reformas laborais que se operaram no mercado de trabalho e na consequente transformação profunda da relação entre trabalhadores e trabalho os sindicatos foram visceralmente abalados nos seus pilares não se sabendo refundir, ou melhor, não sendo expeditos a perceber esse novo paradigma, para dar resposta às novas realidades. Contudo, nem por isso o papel dos sindicatos na luta e na organização da classe deixa de ser actual e fundamental. Antes pelo contrário. Cada vez mais o papel do sindicato deve ser activo na luta social e na emancipação do jugo capitalista, não nos moldes actuais onde patinam na burocratização e institucionalização mas reinventando-se. Assim, e num contexto marcado por uma tremenda ofensiva capitalista urge encontrar o rumo. Mas não se pense, nem se tenha essa ilusão, mesmo que nos sussurrem isso ao ouvido todos os dias, que é possível humanizar o capitalismo ou dar-lhe uma dimensão mais social; é uma tarefa irrealizável. A mudança e a evolução tem de ir ao encontro de uma classe trabalhadora que se encontra cada vez mais fragmentada e duma complexidade crescente. E assim, acho importante promover: (1) debate critico e auto-critico dentro do próprio movimento sindical que revolucione as próprias praticas sindicais e que tenha como objectivo reaproximar os sindicatos das bases; nos locais onde isso seja impossível de realizar, por os sindicatos existentes estarem já irremediavelmente conspurcados, fomentar o aparecimento de novos sindicatos de base. (este é um debate que pode ser levado mais longe: actuar dentro dos sindicatos existentes e devolve-los aos trabalhadores ou estimular a criação por parte dos trabalhadores de novos sindicatos); (2) discussão e desenvolvimento de acções de propaganda activas para desenvolver a consciencialização de classe e de condição e com isto fomentar o número de sindicalizados estimulando ao mesmo tempo a participação activa não só dos associados mas de todos os trabalhadores na luta social; (3) o acolhimento no seio dos sindicatos de um novo sujeito social heterogéneo e multiforme que desabrocha com força: o precariado. Este engloba estudantes, trabalhadores sem vinculo, desempregados, imigrantes, etc. (4) denunciar toda a prosternaçao dos sindicatos burocráticos e verticais ao capital e ao mesmo tempo reclamar e incentivar a horizontalidade dos mesmo; (5) fomentar o dialogo com sindicatos e trabalhadores de outros países com vista à confluência da luta; se o capital se internacionaliza a luta dos trabalhadores não deve ficar refém de fronteiras fictícias (6) todas as medidas e acções que visem: a manutenção, difusão e ampliação dos direitos dos trabalhadores; a redução do horário de trabalho; o fortalecimento do sindicalismo de base; a solidariedade entre os povos; o fim do actual sistema agressivo e ditaturial capitalista; a construçao de um mudo livre de autoridade e hierarquias. Esta é a minha pequena contribuição, que não se esgota nestas linhas, se encontra obviamente aberta a critica e a discussão, que espero fecunda.
* por trabalhador entendo todo aquele, homem ou mulher, que para sobreviver necessita de vender a sua força de trabalho, podendo ou não, num determinado momento, estar a ser remunerado. Nesta categoria englobo estudantes, desempregados, imigrantes, bolseiros, artistas intermitentes, etc

Sem comentários: