quarta-feira, 3 de outubro de 2007

E de quem é a culpa? Da árvore que não devia estar lá. Então corte-se a árvore

Isto é o que eu chamo “cortar o mal pela raiz”. Numa pequena cidade do sul dos EUA, mais precisamente em Jena, Lousiana, voltou-se ao tempo – mas será que alguma vez se saiu – em que a lei era ditada por pirralhos do Ku-Klux-Klan demonstrando mais uma vez o avanço civilizacional que os nossos afectuosos e extremosos aliados estado-unidenses se gabam. Esta cidade vive em segregação efectiva: “os negros moram num lado da cidade. Os brancos moram no outro.” afirmou B.L. Moran, pastor local. Mas vou passar a explicar o porque de tal perplexidade minha. Não vou entrar em muitos pormenores; esse é o vosso trabalho de pesquisa. Vou contar a historia por alto. Em 2006 um rapaz, que por acaso era afro-americano, decidiu utilizar a sombra que uma árvore no pátio da sua escola lhe proporcionava. Por azar, o dele, essa árvore era apelidada de “Árvore branca” e porque? Espantem-se! Debaixo dela só podiam usufruir da sua sombra rapazinhos brancos. Sim, ela lá estava, imponente, há várias gerações, para servir subserviente mente a sua comunidade branca. Mas quis o destino que naquela tarde fosse diferente. Então, no dia a seguir apareceram nos seus ramos três cordas de enforcamento, símbolo do linchamento de negro da tal associação racista e xenófoba. Como foi, disseram as autoridades judiciais e policiais, uma brincadeira de crianças nenhum responsável foi...responsabilizado. É certo que as tensões raciais, naquela cidadezinha dos EUA, já vinham de longe e ficaram, depois deste acto provocatório, ainda mais inflamadas. O culminar do processo deu-se, e depois de vários processos onde os jovens da comunidade WASP foram sempre ilibados dos seus actos racistas, segregacionistas e xenófobos, no final do mesmo ano no qual seis jovens negros – à data tinham uma média de idade de 16 anos – foram, primeiro acusados de tentativa de homicídio – de realçar que, no mesmo dia da agressão, o jovem branco esteve numa festa na sua escola – para passar a ofensas corporais, ofensas pelas quais um dos jovens negro – Mychal Bell - foi condenado a... 15 anos de prisão. Os outros aguardam julgamento. De frisar que nenhum membro da comunidade branca foi detido ou acusado do que é que fosse. Em Setembro, já deste ano, em recurso judicial a condenação foi anulada por Bell ter sido erradamente julgado por ofensas corporais... num tribunal de adultos. A condenação foi anulada porém Bell ainda se encontra preso – já lá vão nove meses – e as autoridades ponderam julgá-lo num tribunal de menores. Quanto à árvore, já que foi ela a principal culpada pois ninguém a mandou estar lá, as autoridades da escola ordenaram que fosse cortada. E assim se cortou o mal pela raiz. Perante esta escandalosa mas institucionalizada injustiça – não a do corte da árvore - milhares de pessoas desfilaram pacificamente na dita cidadezinha para protestar e denunciar o caso que ficou conhecido como “seis de Jena”. Também em Nova York houve condenação pública. Tudo isto é de facto assombroso mas não espanta. Há muito, metódica e sistematicamente, por vezes sub-repticiamente, outras nem por isso, o racismo e a xenofobia ganha alento na sociedade estadunidenses: é os direitos dos negros e latinos que diminuem a cada dia; é as cotas aos estudantes negros; é o sistema de saúde, educação e justiça que é negado às franzas mais carenciadas e necessitadas da sociedade; são os muros, físicos e virtuais, que se erguem para proteger a maioria branca; é toda um chorrilho de medidas que visam desproteger ainda mais aqueles que precisam de ser protegidos em prol e para gozo de alguns déspotas e privilegiados. Mas a culpa não é deles: a culpa é da árvore que não devia estar lá!

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