segunda-feira, 26 de novembro de 2007

E tudo vai bem no reino da Rosa

Demorou duas horas para nos dizer o que não sabemos. Aos seus lacaios relembrou o que já tinha dito. Foi desmentido fortemente por alguns media mas, uma mentira dita muita vezes tem força de verdade. "A economia está a gerar empregos", " (..) desde 2005 foram criados 105, 9 mil novos postos de trabalho". O que se esqueceu de mencionar, sim porque não acredito que o nosso PM seja mentiroso, ou oculte a verdade dos portugueses, é que desses a maior parte são empregos precários, sem garantias de futuro ou de estabilidade. Também se esqueceu, o tempo devia ser pouco, da perda maciça de mão-de-obra qualificada, do desemprego que atinge avassadoramente os recém-licenciados e as mulheres e que em Portugal, e segundo um estudo, ter emprego não é sinónimo de de não ser pobre: "Cerca de 14 por cento dos assalariados obtêm rendimentos do seu trabalho que são insuficiente para os proteger do risco da pobreza extrema"; em Portugal " a diferença em termos de risco de pobreza entre estar-se empregado ou desempregado é significativamente inferior a qualquer outro país". Mas isto são dados e estatisticas que não interessam propagar ou falar muito. Podem ouvir..
E quem o ouviu até pode sorrir pois ficou com a impressão de que tudo são rosas no reino. Mas, como até não somos muito parvos relaciona-mos estas palavras com outras que todos os dias são publicadas no imprensa dita de massas, nomeadamente:
- " A despesa com funcionários públicos em Portugal caiu 1,8 por cento do PIB no espaço de apenas 2 anos. Algo nunca visto na zona euro". - " Receita do governo para cortar a despesa: Salários abaixo da inflação." - " Competividade das empresas cresce - Salários continuam a crescer a um ritmo muito moderado e abaixo da média europeia, o que leva as empresas a recuperar competividade" - " Os custos com o trabalho deverão reduzir-se este ano em 0,8 por cento, a descida mais forte desde 1971" - " Emprego criado por este governo só se deve a contratos a prazo" - " 20 por cento dos pobres recebem salário ao fim do mês" - " Somos 2 milhões que vive abaixo do limiar da pobreza"
Perante este cenário macro-economico podemos, mesmo sem ter qualquer formação na area, tirar algumas ilações:
1. A estratégia economica liberal é bem conhecida: tirar beneficios, regalias e direitos a quem menos tem criando assim um clima de medo e insegurança para outras reformas ainda mais profundas, nomeadamente o esvaziamento do Estado Social.
2. Mais uma vez na história economica portuguesa, os nossos empresarios e detentores de capital não investem num crecimento sustentado e alicerçado; pelo contrário, vão atrás do lucro facil, nomeadamente o lucro "ficticio" vulgo financeiro. Para isso basta estar atento aos lucros astronomicos das empresas cotadas em bolsa, lucros esses que não são acompanhados pela respectiva produção.
3. Uma vez mais a politica para a educação falhou redondamente. As empresas não absorvem a mão de obra qualificada. Isto demonstra o atraso empresarial a que estamos votados.
4. Como consequencia do artigo supra indicado temos, como é óbvio, uma das maiores taxas de abandono escolar da UE; isto pode ser explicado, entre outros factores, à perda de esperança de alcançar algo melhor com os estudos: "estudar para que se os licenciados estão no desemprego". A lista é exaustiva: trabalho precário, desemprego galopante, pobreza generalizada, fome, miséria, ataque sem pudor a direitos e liberdades, nomeadamente, as sindicais, mas não só, um cada vez maior fosso entre pobres e ricos, etc, etc, etc....
Se isto não é um combate violento e desmascarado de Classes então o que é? Sim, porque até aquele discurso de defesa dos mais carenciados e desprotegidos foi abandonado. mentem despuradamente - veja-se a mais recente mentira do pseudo-engenheiro socrates acerca da criação de emprego - O que lhes interessa agora é ficarem bem para a fotografia, é serem bem visto pelos burocratas de bruxelas, é tratarem bem da sua carreira e perpetuarem os seus beneficios e previlegios de classe....
Só com auto-organização, solidariedade, criação de associações sectoriais, interprofissionais,horizontais, de base e de interesses mútuos e desconfiando e repudiando sempre a representividadelhes conseguiremos trava-los e faze-los recuar nos seus intentos.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

" Deviam ter vergonha"

São as palavras do Secretário dos Assuntos Fiscais reportando-se aos empresários nacionais e em seguimento das "correcções efectuadas às declarações de rendimentos das empresas". Neste relatório ficamos a saber que "a correcção de impostos às empresas aumentou 54 por cento, mas nas pequenas e médias empresas apenas (sic) 19 por cento". Isto significa que, se o total da correcção ( o conjunto de empresas/contribuintes) aumentou 54 por cento e apenas 19 por cento nas pequenas e médias empresas então "a correcção nas grandes empresas tem de ter sido superior aos 54 por cento".
Esta frase surge uma semana depois de o mesmo responsável ter acusado as grandes empresas, aquelas que tem lucros astronómicos em tempo de "crise"* "de fuga ao fisco e branqueamento de capitais".
Numa altura que o fisco em particular, e o Estado em geral, nos pedem cada vez mais sacrifícios, quando qualquer trabalhador por conta de outrem paga 1/3 de impostos saídos directamente do seu vencimento, sem sequer o ver, e quando cada vez mais o custo de vida aumenta e deteriora-se, seja como consequencia do aumento da carga fiscal, seja pelo aumento dos bens consumíveis perguntamo-nos, mais uma vez a quem devem ser pedidas contas. Se se sabe quem foge às suas obrigações, se se disponibiliza à opinião pública os nomes dos faltosos, se há forte indícios de fuga e branqueamento de capitais porque é que os sacrificados são sempre os mesmos? Tenho a certeza que se houvesse de facto vontade de punir os responsáveis, se se obrigasse essas empresas a pagar o que devem a situação de tod@s nós seria diferente e já não haveria a desculpa do défice para cortar as despesas em áreas fulcrais e essenciais como a educação, a saúde, a segurança social e todas as outras áreas que os novos liberais querem roubar roubar para encherem os bolsos, mais uma vez à custa de tod@s os trabalhadores. Apetece dizer, e repescando uma frase bem antiga, mas que se reveste de uma actualidade sem precedentes: "Os ricos que paguem a crise!".
* Crise Económica? Falo mas não acredito nela. Acredito que se asssite a uma guera sem cartel conduzida por uma classe detentora do poder económico com a cumplicidade dos detentores do poder politico com vista a explorar cada vez mais e com mais intensidade tod@s aquel@s que todos os dias precisam de vender ao desbarato tudo aquilo que possuem de verdadeiramente seu: a sua liberdade, a sua dignidade, o seu orgulho...
Andarilho Indigente

terça-feira, 20 de novembro de 2007

GNR agride piquete de Greve da Valor Sul

Onde é que isto vai parar?
Para quem ainda tinha dúvidas do autoritarismo, prepotência e opressão deste [e de qualquer um] governo basta ficar perplexo com mais um episódio de despotismo levado a cabo pelos cães de guarda do sistema, a mando dos "nossos" representantes. Os trabalhadores da Valor Sul, aquando o exercício de um direito inalienável foram, duma forma cobarde e ilegal, "empurrados, arrastados, esmurrados" numa clara tentativa, mais uma, de intimidação e amedrontamento dos trabalhadores. Não pensem que defendo teorias conspirativas, isto é mais que uma conspiração. É um ataque deliberado e sem precedentes, no Portugal pós-74, aos direitos e ao bem-estar de todos nós. Recordando acontecimentos passados, não muito distantes, designadamente os vergonhosos acontecimentos da Covilhã e de Montemor, podemos estar certos que cada vez mais são actuais as palavras de M. A. Pina :
Primeiro despediram os funcionários públicos, mas eu não me importei, Não sou funcionário público. Depois proibiram a greve dos professores, mas eu não sou professor. Depois proibiram a manifestação dos militares, mas eu não sou militar. Depois foram os juízes, os polícias, os enfermeiros, mas eu não sou juiz, nem polícia, nem enfermeiro. Agora estão a bater-me à porta, mas já é tarde! (Adaptado de Brecht).
Mas não é só. Para se ter a ideia de como o poder económico anda de mão dada com o poder político, foi publicado hoje (numa tentativa de denegrir a imagem dos trabalhadores) um anúncio de meia página pela administração da Valor Sul, num jornal de referência nacional. Anuncio esse que tenta descrebilizar completamente os seus próprios trabalhadores e com vista, sem dúvida, a colocar contra estes os munícipes dos concelhos abrangidos, em particular, e a opinião publica em geral, que cada vez se mostra mais permeável e sem qualquer sentido critico. Um dos pontos salta logo à vista e, se o caso não fosse sério, tínhamos aqui boas horas de gargalhada. Desde logo o título: " Trabalhadores com maiores remunerações querem manter horas extraordinárias desnecessárias", passando pelo ponto 2 onde afirma que a remuneração média anual global dos 78 trabalhadores em greve é de 40.837 (sic) euros, o que dá qualquer coisa como 3.000 euros por mês - Alguém acredita que estes trabalhadores têm remuneração deste montante? Depois, e num clima de sobressalto à população em geral afirmam que se tudo continuar na mesma, remunerações e trabalho suplementar, isto traduzir-se-á na factura suportada pelos munícipes. Tal táctica, que já foi testada com êxito nos funcionários públicos, visa quebrar qualquer laço de solidariedade com estes trabalhadores. É o famoso: "dividir para governar".
Contra tal estratégia apenas a solidariedade entre tod@s os trabalhadores, apenas a "nossa auto-organização e a nossa acção directa", apenas a nossa "autonomia, unidade, democracia directa, visão colectiva e cooperação entre nós tod@s" poderão suster e fazer recuar tal ofensiva.
Andarilho Indigente