domingo, 23 de dezembro de 2007

Afinal a revolução sempre passa na televisão!

"Há uma revolução em curso na Europa". Se entendermos revolução como uma "insurreição que tende a modificar a política ou as instituições de um Estado" não podemos deixar de concordar com esta afirmação. Esta revolução não é aquela protagonizada por aqueles 200 mil que se juntaram em Lisboa no passado mês de Outubro. Também não é engendrada pelos 100 mil dinamarqueses que protestavam em Copenhaga a 2 do mesmo mês ou das centenas de milhar que a 20 de Outubro invadiram as ruas de Roma ou dos trabalhadores búlgaros que abalam o país com uma onda de greves ou dos 20 mil que expressam nas ruas o seu descontentamento e a sua revolta em Zurique ou as greves levadas a cabo em Espanha ou França ou Inglaterra ou Alemanha ou em qualquer parte e recanto da Europa. Este tipo de revolução não chega à televisão e é abafada pelo propaganda mainstream e institucionalizada que com despudor defende os seus donos. Esta é uma revolução atípica na medida em que não é protagonizada pelos atrás expostos, mas antes pelos " interesses do mercado e dos que o possuem e dirigem o mercado e a economia mundiais". Esta é "uma revolução jurídica e administrativa conduzida" por todos os governos europeus, sem excluir o nosso Primeiro Merdas (PM).
De facto, há boas e muitas razões para levantarmos o cú do sofá. Esta revolução é "um retrocesso no caminho civilizacional da conquista de conquista de liberdade individual e de conquista de direitos individuais dos cidadãos europeus." É uma revolução " em que as elites, as castas dirigentes lutam de forma desesperada e sem apelo pela retirada de direitos sociais, económicos e laborais individuais". É uma revolução que tem "o objectivo de introduzir um novo conceito de redistribuição de riqueza" e " abater o principio da segurança no emprego" depois de já ter investido com sucesso "diminuindo os direitos dos cidadãos no modelo de Segurança Social, obrigando a que as pessoas (...) trabalhem mais anos". Esta é a revolução que vai continuar em 2008, ano em que o nosso PM não vai facilitar e continuará com a "reestruturação dos serviços públicos" e a " anunciada e previsível extinção, total ou parcial, de muitas das funções sociais do Estado" e dará de mão beijada e húmida os serviços a privados. "É aliás isso, e não mais que isso que tem sido feito na educação e na saúde". Não tenhamos dúvidas que nesta revolução todos somos visados. Através "duma politica propagandística assumidamente de terrorismo psicológico" somos confrontados diariamente com "uma verdade única e absoluta (...): a de que as pessoas e os seus direitos custam caro ao Estado e à sociedade" [como se nós não fossemos a sociedade]. O auge da propaganda é "fazer passar a imagem de que os funcionários públicos não trabalham, os professores não ensinam e os médicos não curam" e os trabalhadores em geral não trabalham. A única incógnita nisto tudo é só uma: saber se os parasitas "vão continuar a sorrir pelo modo como estão a ganhar esta nova forma de luta de classes ou se o cidadão nas ruas e nas lutas pela manutenção [e porque não alargamento] dos seus direitos os vão fazer perder o sorriso e estragar-lhes a festa".
Somos nós, eu e tu, os únicos com poder para resolver este enigma.
Todas estas constatações não são novas para os muitos que a isso estão atentos mas não é todos os dias que a lemos num jornal de "referência e tiragem nacional" como é o Público. Ela foi proferida no dia 22 de Dezembro por São José Almeida assim friamente e sem exaltações. São José é talvez, salvo pouquíssimos excepções, a voz que destoa no nosso clube dos fazedores de opinião de massas.